Foto: Marisa Alvarez Lima

Fonte: G1

Após o sucesso da fase incendiária da era dos festivais e da Tropicália, Gal Costa (1945 – 2022) atravessou os anos 1970 com discos geralmente mais cultuados em nichos da MPB do que propriamente consumidos pelo chamado grande público.

Água viva – álbum originalmente lançado pela gravadora Philips e reeditado amanhã, 22 de dezembro, pela Universal Music no formato original de LP – marcou em 1978 o início de nova fase de popularização do canto e da imagem da artista em ação orquestrada sob a batuta do empresário e produtor Guilherme Araújo (1936 – 2007).

Água viva foi o álbum em que Gal gravou pela primeira vez uma composição de Chico Buarque – aliás, duas, revivendo Pois é (Antonio Carlos Jobim e Chico Buarque, 1970) e emplacando nas rádios o bolero Folhetim (1978), composto por Chico em 1977 para a trilha sonora da peça Ópera do malandro (1978) – e que, antecipando a fase tropical iniciada em 1979, revitalizou o samba Olhos verdes (Vicente Paiva, 1950), sucesso da diva antecessora Dalva de Oliveira (1917 – 1972), cujos trinados agudos haviam ecoado com todo o vigor na era do rádio.

Com capa que flagrou a cantora submersa na piscina da casa em que morava na cidade do Rio de Janeiro (RJ), na foto icônica feita por Marisa Alvarez Lima (1976 – 2022), Água viva foi também o álbum em que Gal apresentou ao Brasil a letra de Cadê (1973 / 1978), escrita por Ruy Guerra e censurada na gravação original feita cinco anos antes pelo parceiro de Guerra, Milton Nascimento, autor da música, para o álbum Milagre dos peixes (1973).

Entre abordagem de Vida de artista (Sueli Costa e Abel Silva, 1978) que teria descontentado a autora da melodia,, em avaliação feita na esfera privada em conversa com a cantora, e entre mais um mergulho nas águas de Dorival Caymmi (1914 – 2008), de quem Gal gravou a canção praieira O bem do mar (1954), a artista deu a voz luminosa a quatro músicas de Caetano Veloso, mestre do barco de Gal.

O frevo Qual é, baiana? (Caetano Veloso e Moacyr Albuquerque, 1971) e Paula e Bebeto (Caetano Veloso e Milton Nascimento, 1975) nem eram novidades, mas Mãe (1978) e A mulher (1978) reluziram primeiramente no cristal da verdadeira baiana, sendo que Mãe atravessou gerações.

Em Água viva, Gal ainda revolveu o barro do chão nordestino para cantar De onde vem o baião (Gilberto Gil, 1977), música lançada em disco no ano anterior pela cantora Anastácia, e entrou na cadência do xote roqueiro O gosto do amor (1978) em gravação com Gonzaguinha (1945 – 1991), compositor da música.

Gravado sob direção de produção de Perinho Albuquerque, com os toques lapidares de músicos como Jamil Joanes, Luizão Maia (1949 – 2005), Perna Fróes, Sivuca (1930 – 2006), Toninho Horta e Wagner Tiso, entre outros virtuoses, o álbum Água viva resultou em um dos títulos mais bem-sucedidos da discografia de Gal Costa.

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